:: abril 24, 2005 ::
TI N TO
(silvana guimarães)
Três taças de vinho e todas as mágoas sobem à tona. Em silêncio, saudade, ciúme e suor, eu me consumo. Pela janela aberta da sala de jantar a chuva afoga a natureza morta em cima da mesa. E eu me desafago nos versos que não escrevo (entre a intenção e o gesto há sempre o espaço do sonho e sua ousadia). Se eu fosse cega, eu não daria um passo sequer, nem de luz acesa. Não sei andar sem a minha sombra. Seria eternamente sonsa e zonza, com medo de avançar o sinal e pisar no rabo da gata, no fundo do corredor. Eu, assombração zanzando pelos seus cantos secretos, onde se escondem você e suas ásperas diferenças. Eu, que estou comendo sozinha o pão que o diabo amassou. Eu, logo eu, que sinto tanta sede. Eu, que era doce e se acabou. (Eu, que só queria ser a sua coisinha à toa.) Eu, o vinho, a chuva, o silêncio. E o suplício da fumaça do cigarro sozinho no cinzeiro. Eu, que fiz do coração, tripas.
dito por li stoducto
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