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:: outubro 21, 2005 ::



TRANSCENDÊNCIA


Dôra Limeira


Hoje saio de casa com os pés descalços, vestido solto. Eu saio com os cabelos revoltos, sem presilhas, sem grampos, sem laços de fita. Mas, antes disso, olho-me no espelho e percebo novamente as imperfeições que sempre tentei esconder. Hoje, não uso creme facial, nem pó compacto, nem blush. Hoje eu não uso batom. Nenhum tostão no bolso do vestido. Eu nem preciso de bolsa a tiracolo. Assim, sem sapatos, sem dinheiro e sem documentos, caminho pelas ruas assoviando. A roupa frouxa, cabelos soltos e sem maquiagem, eu saio de casa, com a cara limpa, corpo mais livre. Esqueço a carteira de cigarros em cima da mesa da sala de jantar. Na rua, sorvo uma tragada de oxigênio respirando forte. As endorfinas atuam, e tento não me lembrar de nada. Olho para as acácias do meu bairro e aspiro cheiros de mato molhado. Assim sem bolsa, sem identidade, sem documentos formais, eu me reconheço somente pelo meu jeito de vestir, pelo meu traje solto. As endorfinas se ativam no meu cérebro e sou cada vez menos lúcida. As ruas estão agitadas. Por alguns minutos, entro em contato com minha insanidade e sou feliz. Eu danço no meio das ruas, na frente dos carros parados no semáforo. Eu me divirto com os pingos de chuva caindo no asfalto, molhando os automóveis, encharcando meus cabelos, empapando meu vestido que se cola ao meu corpo. A chuva torna meu rosto mais pálido, meus cabelos mais escorridos, meus seios mais duros, arrebitados. A chuva me faz mais louca e mais feliz, por instantes. Eu danço, eu corro, eu levanto a saia toda molhada, despenteada.

No auge da euforia, sinto que alguém me segura pelo braço. “Senhora, afaste-se do meio da rua, a senhora está atrapalhando o trânsito”. O guarda de trânsito me pega com firmeza e me leva até à calçada, onde meus dois filhos e meus bisnetos me aguardam. Desde então, estou aqui, nesta casa, não sei se num hospital, se num asilo. Tosaram meus cabelos. Não mais sei quem é minha família.


dito por li stoducto


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