:: novembro 03, 2006 ::

AMANHECER
[Lúcio Cardoso (1912-1968)]
A noite está dentro de mim, girando no meu sangue. Sinto latejar na minha boca, as pupilas cegas da lua. Sinto as estrelas, como dedos movendo a solidão em que caminho. Logo o perfume da poesia sobe aos meus olhos trêmulos, cerrados, ouço a música das coisas que acordam sobre o corpo negro da terra e a voz do vento distante e a voz das palmeiras abertas em raios e a voz dos rios viajantes.
E a noite está dentro de mim. Como um pássaro, meu sonho ergue as asas no coração da sombra. Ouço a música das fiores que tombam, o tropel das nuvens que passam e a minha voz que se eleva como uma prece na planície solitária.
Então sinto a noite fugindo de mim, sinto a noite fugindo dos homens e o sol que avança na garupa do mar e as nuvens curvas que enchem o céu como grandes corcéis de fogo cor-de-rosa desaparecendo sugados pela treva.
in Poesias, Ed. José Olympio, Rio
dito por li stoducto
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