Primeira madrugada do século – ramalham os sobreiros oblíquos à chuva que escorre nas vidraças dissolvendo a nitidez do olhar e o vale envolto em brumas e distância (foi assim também dezembro mês nocturno atravessado pelo fogo de palavras esquivas).
Estendo os pés ao calor para lembrar gestos da ternura e rostos que o tempo levou de mim. À luz que nasce amortecem os últimos ecos da festa e só o aroma do chá subindo da chávena branca incandesce os acordes desabridos do vento e da chuva.
No silêncio olheirento da madrugada abafo o lume corro as cortinas e guardo nos olhos o espólio do século que findou: poeira de noites mal dormidas e as estrelas resgatadas ao cotão da eternidade.